Registro da música folclórica no Espírito Santo
(Último de uma série de três)
Quase tôda a coleta musical de teor folclórico, feita pela Comissão Espírito Santense de Folclore, o foi por meio do aparelho Webster, que, em setembro de 1951, adquiríamos da Mesbla S.A. Com esse gravador de fio e os vários carretéis que fomos comprando aqui e ali (hoje de impossível aquisição no Brasil), conseguimos registrar para estudo e con[…], numeroso rol de toadas e cantigas de diversos gêneros, ouvidos à gente simples do Espírito Santo: figuras de grupos folclóricos (Ticumbis, Reis-de-Boi, Folias de Reis e do Divino, Bandas de Congos etc.); professôras e meninas de colégios; dançantes de jongo e caxambus; domésticas, jardineiros, uma ceguinha, etc. etc…
A relação é extensa e, incompletamente, aqui referida, uma vez que tal divulgação interessa à historinha do registro musical do folclore capixaba.
Vamos a ela.
TOADAS DE CONGOS (19 ao todo) — Da Serra (Putiri e Campinho): ôi que santo é aquele?… Eu vim do má de fora… Cajuêro abalô, Venha cá Yayá, ôi vamo lová S. Binidito, Nosso congo vai embora… De Manguinhos: Meu canaviá, Dobrado meu bem dobrado, Vô pa Bahia vô vê.. E Dalina. De Aracruz (Caeira Velha): Ôi Yayá cadê padrim.. Quem descobriu o Brasil foi o português, Eu quero vê Aracaju e Fui no Convento da Penha.
CANTIGAS DE RODA: Penedo vai (2 versões), Piripiri — (Aribiri), Pobre viúva (idem), Meu amor é marinheiro (id.), Periquito Maracanã (id.), Os olhos de Marianita, A rolinha (Afon Cláudio), Côco de mim (milho). Total: dez gravações.
ROMANCES VERSIFICADOS: — Romance do Ceguinho (3 versões, Vitória, S. Mateus e Muqui), Juliana e Dom Jorge (3 versões — Vitória 2 e uma de São Mateus), O pintor da bôca torta (4 versões — de Vitória, Nova Venécia (2) e Muqui). Romance de Antoninho (versões de Vitória (2) e S. Mateus). Rio Preto (fragmentos), de Conceição da Barra. Romance da Moça na Janela.. (Vitoria).
FOLIA DE REIS: — Tôdas colhidas em Muqui: Hino de Reis (Floresta), Toada sôbre o nascimento de Jesus (Santa Rosa), Texto de S. João Batista (Serrinha), A Profecia (Córrego da Fama), Anunciação (Barro Branco), Nascimento de Cristo e Despedida (Lagoa Dourada). Total de sete registros. Falta-nos, todavia, à mão, um carretel com outras gravações de Folias de Muqui.
TERNO DE REIS: — Duas toadas de Maruípe.
FOLIAS DO DIVINO: — Cinco cânticos (4 de Viana e um de Marataízes).
REIS DE BOI: — Tôdas de Conceição da Barra. Duas gravações em épocas diferentes. Vários cânticos, entre eles: Acordais que está chegada… Eu sô aquêle canário, Ô meu Santo Reis, Santo Sebastião e Nóis samos aquela folinha. (A segunda gravação registrou grande parte do auto popular).
BAILES DE CONGO: — Três gravações. Duas de Conceição da barra e a outra de Cariacica. (Cantigas, marchas e embaixadas. Quase tôda a dramatização).
PONTOS DE JONGO E CAXAMBU: — De Marataízes: De manhã cedo / a cana está madura.. Meu São Jorge cavaleiro e Ponto de rôla.
CONTOS POPULARES (parte cantada): — Do canto “A Madrasta”(capineiro de meu pai…): variantes de Vitória (3), Nova Venécia, Rio Novo, Mimoso do Sul, Santa Leopoldina e uma versão de Minas Gerais). Da “História de Zuína” (aonde tu foi, Zuína..) versão de Conceição da Barra. Total: nove versões de dois contos populares.
CANTIGAS DE VARIOS GENEROS — Toadas de cachaça (2 versões), Conheci um nêngo (lundu), Tango-lomango ([…] versões), Cantiga de cego (Marataises), Cantiga de Ninar (Guarapari), Quadras de Martelo: Segura que a bicha é feia.. E Cajuêro (Conc. Barra).
Temos também, mas em fita (um carretel e meio) em gravação feita por gentileza da Rádio Espírito Santo, tôda a “Parte de Mouros”, colhida à Marujada “São Paulo”, do Morro dos Alagoanos.
Não computando o que não nos foi possível verificar em mais dois carretéis imantados (que ora não se encontram à mão), apura-se, pelo longo desfile que acabamos de fazer — um total de oitenta e três gravações, neste número não incluindo a “parte de Mouros” da Marujada, nem as duas gravações “de longa metragem” dos Bailes de Congo e dos Reis-de-Boi.
Tínhamos o propósito de divulgar, fora das fronteiras do Estado, essa riqueza musical do folclore capixaba. Chegamos a tirar três discos de acetato (três apenas!). Dois devem estar em Curitiba, anexos ao trabalho que apresentamos sôbre “Folguedos dramatizados no Espírito Santo”. O outro, com seis seleções da Marujada, foi ouvido em Porto Alegre, durante a realização do IV Congresso Brasileiro de Folclore.
Esse era o nosso propósito. Mas, lá diz o conhecido provérbio, aqui propositadamente alterado: O homem faz e o diabo desfaz. Falta-nos numerário para isso.
Acrescente-se que os carretéis de fio imantado não mais existem à venda no Brasil. E os doze que a Comissão possui estão todos eles com as gravações referidas. Passadas estas para os discos de acetato, liberaremos os carretéis para novas gravações.
Nada disso, porém, se fará tão cedo, porque, infelizmente, nos falta “aquilo com que se compram os melões…”, embora tenha a nossa Comissão de Folclore nos cofres do Estado um crédito superior a cento e cinquenta mil cruzeiros, referente às subvenções legais que, desde o famigerado ano de 1955 até hoje, não se recebem…
Os subsídios que em três capítulos alinhamos (“A Gazeta” de domingo, de quarta-feira e de hoje) não pretendem esgotar todos os dados existentes para o levantamento da história do registro musical do folclore capixaba.
Quem souber de outros elementos, não fique falando, ou cochichando ou resmungando sozinho (vêzo velho do capixaba…), Venha à liço, isto é, a público, indicar as fontes de informação que possui, retificar o que expusemos, trazer novos dados para o trabalho desse levantamento necessário e urgente.