Relatório Técnico Final

Características técnicas dos materiais

As fitas audiomagnéticas do acervo Guilherme Santos Neves foram gravadas entre as décadas de 1950 e 1960, incluindo 45 fitas rolo de carretel aberto e 14 fitas cassete compactas. As fitas rolo têm ¼ de polegada de largura e utilizam carretéis que variam entre 3 e 7 polegadas de diâmetro — padrões muitos utilizados em trabalhos de campo realizados entre as décadas de 1950 e 1970, em função da portabilidade que ofereciam. São fitas com durações variadas, produzidas por diferentes fabricantes, e gravadas em velocidades que variam entre 7 ½, 3 ¾ e 1  polegadas por segundo. A maioria das fitas rolo foi gravada em velocidade lenta (1 ), o que compromete a sua qualidade original. Já as fitas cassete de áudio foram gravadas nos anos 1960, e têm duração entre 60 e 90 minutos.

Acondicionamento

Algumas fitas rolo do acervo estavam acondicionadas em seus estojos originais, fabricados em papel cartão, material que pode ser prejudicial à conservação em função de sua alta acidez. Além disso, os estojos apresentavam danos físicos, fitas adesivas e ausência de ponta de proteção em alguns rolos – de modo que os trechos iniciais dos mesmos se encontram danificados. Algumas dessas embalagens não estão íntegras, o que expõe os documentos a sujidades e micro-organismos. Outras fitas estão acondicionadas em envelopes de papel ou até mesmo fora de qualquer estojo, portanto ainda mais expostas a contaminantes.

Portanto, a fim de promover um adequado reacondicionamento das fitas rolo, foram encomendados estojos de acrílico rígido, elaborados sob medida e produzidos de modo artesanal. Os papéis com informações descritivas que estavam depositados em alguns estojos originais deverão ser retirados e armazenados em local adequado para a conservação de documentos textuais, geralmente em caixa de papelão livre de ácidos. As fitas rolo deverão ser acondicionados nos novos estojos de acrílico, e devidamente identificadas com etiquetas que informem a sua codificação atribuída. Todas as fitas magnéticas, tanto rolos quanto cassetes, deverão ser armazenadas em estante de aço laqueado, alumínio ou aço inoxidável, com prateleiras rígidas, na posição vertical.

Higienização

As fitas audiomagnéticas foram vistoriadas individualmente e higienizadas com trinchas e panos macios e não-abrasivos, sem serem desenroladas, a fim de retirar eventuais sujidades e particulados superficiais. A higienização foi complementada pelo uso de aspirador de pó com filtro HEPA, que possui alto grau de eficiência de filtragem de partículas.

Digitalização

Um total de dez (10) fitas magnéticas de rolo apresentaram grau elevado de deterioração, particularmente hidrólise, abaulamento e desprendimento de óxido, elementos que, em conjunto, inviabilizaram o procedimento de digitalização, sob pena de comprometer permanentemente os suportes. Essas fitas deverão ser acondicionadas e conservadas da melhor forma possível, com valores reduzidos e controlados de temperatura e umidade relativa, para que, futuramente, uma nova investida em sua digitalização possa ser eventualmente reavaliada. Outras fitas rolo foram digitalizadas em parte e/ou com comprometimento de qualidade, também em função da deterioração dos materiais.

Os códigos de referência das dez fitas que não puderam ser digitalizadas são os seguintes: A01b, A05, A12, A14, B25, B27, B29, C39, C41 e C44.

Preservação digital

Metadados técnicos e descritivos foram incluídos e embutidos aos arquivos digitais gerados pelo processo de digitalização, por meio do software gratuito e aberto BWF MetaEdit, que criou também somas de verificação (checksum) que conferem a integridade dos arquivos. Esse conjunto de metadados embutidos foi exportado para planilhas, em formato CSV, a fim de facilitar a sua leitura e permitir eventual transferência para base de dados ou repositório digital. Foi criada também uma ficha contendo detalhamento sobre o estado de conservação de cada uma das fitas inspecionadas, incluindo aquelas que não puderam ser digitalizadas.

Todos os arquivos digitais gerados, bem como os seus metadados associados, foram inicialmente copiados para dois HD externos, bem como para serviço de nuvem, a fim de possibilitar a sua segurança.

Rio de Janeiro, 10 de junho de 2021.

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Marco Dreer

Marco Dreer é preservador audiovisual e digital desde 2002 e atualmente bolsista do Projeto de Preservação Digital na Fiocruz. É embaixador no Brasil da International Association of Sound and Audiovisual Archives (IASA) e Vice-presidente da Associação Brasileira de Preservação Audiovisual (ABPA).