C48
Marujada São Paulo (Morro dos Alagoanos, Vitória) (2 de 2)
Vitória Espírito Santo Brasil

C48 • Marujada São Paulo (Morro dos Alagoanos, Vitória) (2 de 2)

A fita é a continuação de parte da dramatização da Marujada São Paulo do Morro dos Alagoanos, de Vitória, sob a direção do mestre José Pedro Lino. A sessão de gravação ocorreu nos estúdios da Rádio Espírito Santo, em Vitória, e foi promovida pela Comissão Espírito-santense de Folclore, em data ainda não confirmada, seguramente antes de 1961. A Marujada é composta por 36 participantes e segundo consta em artigo sobre a gravação, todos estavam presentes na sessão.

As sequências da dramatização registradas nesta fita são: Parte final da Marujada São Paulo. Gajeiros, Mouros e Almirante; Batismo dos Mouros.

“A nossa Marujada São Paulo – proveniente de Maceió, como vimos – acompanha muito de perto as versões que se representam no norte e nordeste, onde, aliás, há numerosos conjuntos desse folguedo.” – Guilherme Santos Neves, A Gazeta, 23/05/1959

Conteúdo detalhado

INÍCIO

[00:00:01.06]
> Marujada. Gajeiros e Mouros.

Capelão e o Ração
também venham combater.
Que os corsários
em campanha não arreia.

Fogo, artilharia,
Que nós estamos em campanha

Saia gajeiro, ô
Saia gajeiro, venha combater
Que a ferro frio, quê
A ferro frio havemos de vencer

Entrega-te, corsários,
À nossa religião.
Aqui dentro desta nau
Temos ferro no porão.

> Mouros
Não entrego nem pretendo
No meio de tanta gente,
Somos filho da Turquia
Temos fama de valente.

Entrega-te, corsários,
À nossa religião.
Aqui dentro desta nau
Temos padre capelão.

Não entrego nem pretendo,
Nem consigo a tua lei,
É por causa de Mafama
Que o nosso Deus é Rei.

Entrega-te, corsários,
À nossa religião.
Aqui dentro desta nau
Tem a Virgem da Conceição.

[00:03:22.00]
> Gajeiros:
Assim que os corsários
ouviram falar
na Virgem da Conceição,
Arrearam as armas da mão.

>Mouros:
Ó meu bom Deus, senhor de Mafama,
Rei da Mauritânia,
Venha me ajudar.
Olhe para todos seus filhos
Soldados que estão em perigo
Lá no alto-mar!

> Rei Mouro:
Aqui está o seu bom Deus,
Senhor da Maurtiânia,
Que vem lhe ajudar.
Eu olho para todos meus filhos
Soldados que estão em perigo
Lá no alto-mar.

> Rei Mouro:
Saindo eu de Holanda,
Neste navio de espia,
Vim saber de uma surpresa,
Que tem dois embaixador meu
Preso na vossa artilharia.

> Almirante:
Se tu nunca ouviste falar no carrasco da Turquia, olhes bem que sou eu braços que muitos torceu milhões de turcos armados, grandes guerreiros falados, vassalos teus escolhidos, por mim foram abatidos e estão no livro de finados.

> Rei Mouro: Ô, tu, Almirante covarde, indigno da patente que possui. Foi tu que me ameaçastes
na ponta da tua espada?

> Gajeiros: Sim!

> Rei Mouro: Mais alto do que as sete estrelas?

> Gajeiros: Sim!

> Rei Mouro: Leva acima?

> Gajeiros: Sim!

> Rei Mouro: Trazei abaixo?

> Gajeiros: Sim!

> Rei Mouro: Fazei-me a sujeitar à santa religião que é a santa lei do cristão?

> Gajeiros: Sim!

> Almirante: E quem és tu que tão atrevidamente me fala?

> Rei Mouro:
Da Mauritânia eu sou o grande Rei
Que pelos meus Embaixadores
Prender-me aqui mandei, Almirante

> Almirante: Primeiro e Segundo Tenente e o Sargento-Artilheiro, pegue o Rei de Mouro e faz dele prisioneiro.

> Embaixadores: Olá, Rei. Tu não disseste que tinha tanta coragem e tanta valia, pra que nos trouxeste no mundo tão enganado?

> Rei Mouro: Ó, se eu soubesse que o Brasil tinha tanta coragem e tanta valia, há muito tinha me passado com todas as minhas vasselagens, que eu sou um mouro manchado no sangue dos meus irmões. Bebi sangue, saciei-me, não espero mais o perdão.

Que me importa, que me importa, que me chame desgraçado?
Nasci triste e sem ventura, hoje sou mal-afortunado.
A minha espada é cravejada de prata, ouro e brilhante,
ainda pretendo limpar no peito do Almirante.

> Almirante:
Duvido, duvido e duvidarei
E torno a duvidar,
Que os turcos nunca possam,
Com as armas imperiais.

> Patrão:
Tenho a Virgem da Conceição
E ela nos queira valer
Que os turcos nunca possam
Com meu General combater.

> Almirante:
Tenho a Virgem do Rosário,
Ela nos queira ajudar,
Que os turcos nunca possam
Com as armas imperiais.

> Rei Mouro: Arreio as armas da mão, não quero mais pelejar!

> Ração: Seu padre, tem três bicho aqui pro senhor batizar.

> Padre: Eles têm dinheiro?

> Ração: Não sei não…

> Padre: Vê lá se eles têm dinheiro. Meu caso é dinheiro.

> Padre: Ajoelha aí.

> Mouros: O que é ajoelhar, seu Padre?

[…]

[00:07:26.28]
> Marujada. Batismo dos Mouros.

> Padre:
Teus corpos serão queimados,
Suas cinzas lançadas ao mar.
Se a vida quiseres ter,
Mouro tem que se batizar.

Prestarás o juramento
Pela lei da cristandade.
Se a vida quiseres ter,
Mouro tem que ser batizado.

> Mouros:
Eu me batizo sim,
Mas não é de coração,
É por causa de um Mafama
Que nos jogou em traição.

Eu te batizo, Mouro.
Mouro, és fiel pagão!
Ah, depois de batizado,
Mouro, tu serás (és fiel) cristão.

[00:12:16.00]
> Gajeiros: Seu padre, bota o nome dos homens.

> Padre: Estão batizados! Em nome de Deus, estão batizados.
Seu nome será Maria Vermelha. E você Maria Tomba Homem. E o senhor Grande Peixe Rei do Mar.

[00:12:30.29]
> Marujada. Batismo dos Mouros (final)

> Mouros:
Dou graças ao céu
De todo meu coração.
Ainda ontem era Mouro,
Já hoje somos cristão.

Dou graças o céu
De todo meu coração.
Agradeço esse favor
De um Padre Capelão.

FIM

Destaques

Marujada São Paulo. Gajeiros e Mouros
Marujada São Paulo. "Assim que os corsários ouviram falar na Virgem da Conceição"
Marujada São Paulo. Batismo dos Mouros.
Marujada São Paulo. Final.

Ficha técnica

Código de referência

GSN_FR_C48

Título (atribuído)

Marujada São Paulo (Morro dos Alagoanos, Vitória) (2 de 2)

Data de gravação

05/08/2021

Local de gravação

Vitória, ES, Brasil

Suporte de gravação

Fita Rolo

Duração

13min46s

Idioma

Português

Gênero

Dramatização

Data da digitalização

23/04/2021

Informações no estojo

Na parte de trás: Comissão E. Santense de Folclore (à caneta)

Lombada: 2

Marca e modelo

BASF (armazenada em estojo Irish Brand)

Personagens

José Pedro Lino

Referências externas

A Comissão Espírito-santense de Folclore esteve envolvida desde o ano de sua instalação com a divulgação da Marujada São Paulo. Em 1949, foi promovida pela Comissão uma representação do auto popular marítimo no Parque Moscoso, em Vitória, por ocasião da II Semana de Folclore; em Maio de 1959, na cidade de Vila Velha, a Comissão divulga a apresentação da Marujada na praça Duque de Caxias e, em Setembro do mesmo ano, mais uma apresentação em Vitória como parte dos festejos do Dia da Cidade. Quanto ao registro presente nesta fita, sabemos que foi realizado pela Comissão nos estúdios da Rádio Espírito Santo, certamente antes de 1961. Ver:

NEVES, Guilherme Santos. Folclore, ano VIII, n° 51/54. Vitória, Novembro-Dezembro de 1957; Janeiro-Junho de 1958.
____________________ . Marujada São Paulo. Coletânea de Estudos e Registros do Folclore Capixaba: 1944-1982. Vol 2. Vitória: Centro Cultural de Estudos e Pesquisas no Espírito Santo, 2008, pp. 137-140.
____________________ . Vamos ver a Marujada São Paulo. Coletânea de Estudos e Registros do Folclore Capixaba: 1944-1982. Vol 2. Vitória: Centro Cultural de Estudos e Pesquisas no Espírito Santo, 2008, pp. 141-142.

____________________ . Revisão da Marujada. Coletânea de Estudos e Registros do Folclore Capixaba: 1944-1982. Vol 2. Vitória: Centro Cultural de Estudos e Pesquisas no Espírito Santo, 2008, pp. 1 50-194.
____________________ . Registro da Música Folclórica no Espírito Santo. Coletânea de Estudos e Registros do Folclore Capixaba: 1944-1982. Vol 2. Vitória: Centro Cultural de Estudos e Pesquisas no Espírito Santo, 2008, p. 247.

O Mestre José Pedro Lino, natural de Alagoas, foi mestre da Marujada São Paulo em Maceió. Ao transferir-se para Vitória, fundou a Marujada São Sebastião, que mais tarde se encerraria e daria lugar à Marujada São Paulo do Morro dos Alagoanos. O auto por ela representado, portanto, acompanha de perto as versões apresentadas no Norte e Nordeste do Brasil. Ver:

____________________ . Marujada São Paulo. Coletânea de Estudos e Registros do Folclore Capixaba: 1944-1982. Vol 2. Vitória: Centro Cultural de Estudos e Pesquisas no Espírito Santo, 2008, pp. 137-140
____________________ . Órfã a Marujada São Paulo. Coletânea de Estudos e Registros do Folclore Capixaba: 1944-1982. Vol 2. Vitória: Centro Cultural de Estudos e Pesquisas no Espírito Santo, 2008, pp. 302-304.
____________________ . O mestre da Marujada São Paulo. Coletânea de Estudos e Registros do Folclore Capixaba: 1944-1982. Vol 2. Vitória: Centro Cultural de Estudos e Pesquisas no Espírito Santo, 2008, pp. 304-306.

Uso e permissão

Permitida divulgação. Permitida utilização educacional. Não permitido uso comercial.