A fita é a continuação de parte da dramatização da Marujada São Paulo do Morro dos Alagoanos, de Vitória, sob a direção do mestre José Pedro Lino. A sessão de gravação ocorreu nos estúdios da Rádio Espírito Santo, em Vitória, e foi promovida pela Comissão Espírito-santense de Folclore, em data ainda não confirmada, seguramente antes de 1961. A Marujada é composta por 36 participantes e segundo consta em artigo sobre a gravação, todos estavam presentes na sessão.
As sequências da dramatização registradas nesta fita são: Parte final da Marujada São Paulo. Gajeiros, Mouros e Almirante; Batismo dos Mouros.
“A nossa Marujada São Paulo – proveniente de Maceió, como vimos – acompanha muito de perto as versões que se representam no norte e nordeste, onde, aliás, há numerosos conjuntos desse folguedo.” – Guilherme Santos Neves, A Gazeta, 23/05/1959
Conteúdo detalhado
INÍCIO
[00:00:01.06]
> Marujada. Gajeiros e Mouros.
Capelão e o Ração
também venham combater.
Que os corsários
em campanha não arreia.
Fogo, artilharia,
Que nós estamos em campanha
Saia gajeiro, ô
Saia gajeiro, venha combater
Que a ferro frio, quê
A ferro frio havemos de vencer
Entrega-te, corsários,
À nossa religião.
Aqui dentro desta nau
Temos ferro no porão.
> Mouros
Não entrego nem pretendo
No meio de tanta gente,
Somos filho da Turquia
Temos fama de valente.
Entrega-te, corsários,
À nossa religião.
Aqui dentro desta nau
Temos padre capelão.
Não entrego nem pretendo,
Nem consigo a tua lei,
É por causa de Mafama
Que o nosso Deus é Rei.
Entrega-te, corsários,
À nossa religião.
Aqui dentro desta nau
Tem a Virgem da Conceição.
[00:03:22.00]
> Gajeiros:
Assim que os corsários
ouviram falar
na Virgem da Conceição,
Arrearam as armas da mão.
>Mouros:
Ó meu bom Deus, senhor de Mafama,
Rei da Mauritânia,
Venha me ajudar.
Olhe para todos seus filhos
Soldados que estão em perigo
Lá no alto-mar!
> Rei Mouro:
Aqui está o seu bom Deus,
Senhor da Maurtiânia,
Que vem lhe ajudar.
Eu olho para todos meus filhos
Soldados que estão em perigo
Lá no alto-mar.
> Rei Mouro:
Saindo eu de Holanda,
Neste navio de espia,
Vim saber de uma surpresa,
Que tem dois embaixador meu
Preso na vossa artilharia.
> Almirante:
Se tu nunca ouviste falar no carrasco da Turquia, olhes bem que sou eu braços que muitos torceu milhões de turcos armados, grandes guerreiros falados, vassalos teus escolhidos, por mim foram abatidos e estão no livro de finados.
> Rei Mouro: Ô, tu, Almirante covarde, indigno da patente que possui. Foi tu que me ameaçastes
na ponta da tua espada?
> Gajeiros: Sim!
> Rei Mouro: Mais alto do que as sete estrelas?
> Gajeiros: Sim!
> Rei Mouro: Leva acima?
> Gajeiros: Sim!
> Rei Mouro: Trazei abaixo?
> Gajeiros: Sim!
> Rei Mouro: Fazei-me a sujeitar à santa religião que é a santa lei do cristão?
> Gajeiros: Sim!
> Almirante: E quem és tu que tão atrevidamente me fala?
> Rei Mouro:
Da Mauritânia eu sou o grande Rei
Que pelos meus Embaixadores
Prender-me aqui mandei, Almirante
> Almirante: Primeiro e Segundo Tenente e o Sargento-Artilheiro, pegue o Rei de Mouro e faz dele prisioneiro.
> Embaixadores: Olá, Rei. Tu não disseste que tinha tanta coragem e tanta valia, pra que nos trouxeste no mundo tão enganado?
> Rei Mouro: Ó, se eu soubesse que o Brasil tinha tanta coragem e tanta valia, há muito tinha me passado com todas as minhas vasselagens, que eu sou um mouro manchado no sangue dos meus irmões. Bebi sangue, saciei-me, não espero mais o perdão.
Que me importa, que me importa, que me chame desgraçado?
Nasci triste e sem ventura, hoje sou mal-afortunado.
A minha espada é cravejada de prata, ouro e brilhante,
ainda pretendo limpar no peito do Almirante.
> Almirante:
Duvido, duvido e duvidarei
E torno a duvidar,
Que os turcos nunca possam,
Com as armas imperiais.
> Patrão:
Tenho a Virgem da Conceição
E ela nos queira valer
Que os turcos nunca possam
Com meu General combater.
> Almirante:
Tenho a Virgem do Rosário,
Ela nos queira ajudar,
Que os turcos nunca possam
Com as armas imperiais.
> Rei Mouro: Arreio as armas da mão, não quero mais pelejar!
> Ração: Seu padre, tem três bicho aqui pro senhor batizar.
> Padre: Eles têm dinheiro?
> Ração: Não sei não…
> Padre: Vê lá se eles têm dinheiro. Meu caso é dinheiro.
> Padre: Ajoelha aí.
> Mouros: O que é ajoelhar, seu Padre?
[…]
[00:07:26.28]
> Marujada. Batismo dos Mouros.
> Padre:
Teus corpos serão queimados,
Suas cinzas lançadas ao mar.
Se a vida quiseres ter,
Mouro tem que se batizar.
Prestarás o juramento
Pela lei da cristandade.
Se a vida quiseres ter,
Mouro tem que ser batizado.
> Mouros:
Eu me batizo sim,
Mas não é de coração,
É por causa de um Mafama
Que nos jogou em traição.
Eu te batizo, Mouro.
Mouro, és fiel pagão!
Ah, depois de batizado,
Mouro, tu serás (és fiel) cristão.
[00:12:16.00]
> Gajeiros: Seu padre, bota o nome dos homens.
> Padre: Estão batizados! Em nome de Deus, estão batizados.
Seu nome será Maria Vermelha. E você Maria Tomba Homem. E o senhor Grande Peixe Rei do Mar.
[00:12:30.29]
> Marujada. Batismo dos Mouros (final)
> Mouros:
Dou graças ao céu
De todo meu coração.
Ainda ontem era Mouro,
Já hoje somos cristão.
Dou graças o céu
De todo meu coração.
Agradeço esse favor
De um Padre Capelão.
FIM