Lado A: Mestre Pedro de Aurora entoa toadas e cantigas ao longo do registro: “Óia o coco Sinhá Bastiana”; “A areia do mar”; “A rôla voou”; “ABC da Onça”. Ao final, entoa o cordel “A Peleja do Cego Aderaldo com Zé Pretinho dos Tucuns” (Firmino Teixeira do Amaral) e um cordel sobre o cangaceiro Antônio Silvino, personagem muito presente na literatura de cordel e especialmente na obra de Leandro Gomes de Barros, autor de “Antônio Silvino: rei dos cangaceiros”.
Lado B: A gravação inicia com a cantiga “A Diana / Boa noite meus senhores todos”, na interpretação de uma mulher ainda não identificada. Em seguida, Hermógenes entoa a cantiga “Ô que noite linda, ô que belo luar / Nossa senhora da penha nós vinhemo a adorar”. Na sequência, ouvimos a cantiga “Quando eu vim de lá da cidade…” e, por fim, a cantiga ou lamento de derrubada “São Benedito / Olha a flor da manjerona”
Obs.: Alguns oradores não foram identificados até o momento.
Conteúdo detalhado
LADO A
[00:00:01.16]
> Mestre Pedro de Aurora: Óia o coco Sinhá Bastiana…
Óia o coco Sinhá Bastiana
Óia o coco na vorta da pá
Óia o coco Sinhá Bastiana
Junta esse coco que eu quero quebrar
E depois desse coco quebrado,
Panha o ralo que eu quero ralar
Pra fazer um quitute gostoso,
Eu sou perigoso quando eu vou almoçar
Licença Dona Maria,
Em sua chácara eu quero cantar
Eu quero cantar o martelo
Direitinho pro povo gostar
Óia o coco Sinhá Bastiana
Óia o coco na vorta da pá
Óia o coco Sinhá Bastiana
E ajunta esse coco que eu quero quebrar
E depois desse coco quebrado,
Panha o ralo que eu quero ralar
Pra fazer um quitute gostoso,
Eu sou perigoso quando eu vou almoçar
Você me chamou de bruto
Que eu sou matuto e não sei conversar
Sou nascido na faixa da terra
Eu falo e não erro lá no tribunal
Óia o coco Sinhá Bastiana
Óia o coco na vorta da pá
Óia o coco Sinhá Bastiana
E ajunta esse coco que eu quero quebrar
E depois desse coco quebrado,
Panha o ralo que eu quero ralar
Pra fazer um quitute gostoso,
Eu sou perigoso quando eu vou almoçar
Quando me azangá, eu meto o pé vou m’embora
Quando me azangá, eu meto o pé vou m’embora
Eu panho a praia medonha
e vou saindo desse mundo afora
Óia o coco Sinhá Bastiana
Óia o coco na vorta da pá
Óia o coco Sinhá Bastiana
E ajunta esse coco que eu quero quebrar
Eu sou Pedro de Aurora,
é nego velho acostumado
Eu sou Pedro de Aurora,
é nego velho acostumado
De abrir cacimba no soco
E dá embaixo no molhado
Óia o coco Sinhá Bastiana
Óia o coco na vorta da pá
Óia o coco Sinhá Bastiana
Junta esse coco que eu quero quebrar
Depois desse coco quebrado,
Panha o ralo que eu quero ralar
Pra fazer um quitute gostoso,
Eu sou perigoso quando eu vou almoçar
Se eu topar um cara duro como eu encontrei na Lavinha
Se eu topar um cara duro como eu encontrei na Lavinha
Eu faço o cabra suar [pro tanto cabeludinha]
Eu faço o cabra suar [pro tanto cabeludinha]
Óia o coco Sinhá Bastiana
Óia o coco na vorta da pá
Óia o coco Sinhá Bastiana
Junta esse coco que eu quero quebrar
Depois desse coco quebrado,
Panha o ralo que eu quero ralar
Fazer um quitute gostoso,
Eu sou perigoso quando eu vou almoçar
Adeus, que eu vou embora e eu vou sair daqui
Adeus, que eu vou embora e eu vou sair daqui
Eu vou panhar essa praia medonha e vou bater lá em Mucuri
Eu vou panhar praia medonha eu vou bater lá em Mucuri
Óia o coco Sinhá Bastiana
Óia o coco na vorta da pá
Óia o coco Sinhá Bastiana
Junta esse coco que eu quero quebrar
Depois desse coco quebrado,
Panha o ralo que eu quero ralar
Fazer um quitute gostoso,
Eu sou perigoso quando eu vou almoçar
Eu chegando de Mucuri eu vou balançar o pé da rosa
Eu chegando de Mucuri vou balançar o pé da rosa
Eu panho… eu panho meu destino e vou passear lá em Viçosa
Óia o coco Sinhá Bastiana
Óia o coco na vorta da pá
Óia o coco Sinhá Bastiana
Junta esse coco que eu quero quebrar
Depois desse coco quebrado,
Panha o ralo que eu quero ralar
Fazer um quitute gostoso,
Eu sou perigoso quando eu vou almoçar
No lugar que eu chegar, cantador não arma rancho
No lugar que eu chegar, cantador não arma rancho
Seu eu ia lá de manhã, meio-dia Pedrinho desmancha
Seu eu ia lá de manhã, meio-dia Pedrinho desmancha
Óia o coco Sinhá Bastiana
Óia o coco na vorta da pá
Óia o coco Sinhá Bastiana
Junta esse coco que eu quero quebrar
Depois desse coco quebrado,
Panha o ralo que eu quero ralar
Fazer um quitute gostoso,
Eu sou perigoso quando eu vou almoçar
> Orador 2: Não cansou, não?
[00:05:48.25]
> MPA. Óia o coco Sinhá Bastiana… (continuação)
Companheiro me ajude que embora eu seja baixinho
Companheiro me ajuda que embora eu seja baixinho
Eu tenho muita vergonha eu não posso cantar sozinho
Tenho muita vergonha eu não posso cantar sozinho
Óia o coco Sinhá Bastiana
Óia o coco na vorta da pá
Óia o coco Sinhá Bastiana
Junta esse coco que eu quero quebrar
Depois desse coco quebrado,
Panha o ralo que eu quero ralar
Fazer um quitute gostoso,
Eu sou perigoso quando eu vou almoçar
Segura a mão de Deus, segura se não eu pego
Segura a mão de Deus, segura se não eu pego
Se você contar eu digo, se você dizer eu nego
Se você contar eu digo, se você dizer eu nego
Óia o coco Sinhá Bastiana
Óia o coco na vorta da pá
Óia o coco Sinhá Bastiana
Junta esse coco que eu quero quebrar
Depois desse coco quebrado,
Panha o ralo que eu quero ralar
Fazer um quitute gostoso,
Eu sou perigoso quando eu vou almoçar
Ô meu cumpadre Custódio, nós havemo morrer junto
Ô meu cumpadre Custódio, nós havemo morrer junto
Cumo não será bonito, cumpade…
Cumo não será bonito numa cova dois defunto
Cumo não será bonito numa cova dois defunto
Óia o coco Sinhá Bastiana
Óia o coco na vorta da pá
Óia o coco Sinhá Bastiana
Junta esse coco que eu quero quebrar
Depois desse coco quebrado,
Panha o ralo que eu quero ralar
Fazer um quitute gostoso,
Eu sou perigoso quando eu vou almoçar
Se tivesse uma viola, eu ia cantar direitinho
Se tivesse uma viola, eu ia cantar direitinho
Eu só bebo […] é cachaça, cerveja e vinho
Eu só bebo […] é cachaça, cerveja e vinho
Óia o coco Sinhá Bastiana
Óia o coco na vorta da pá
Óia o coco Sinhá Bastiana
Junta esse coco que eu quero quebrar
Depois desse coco quebrado,
Panha o ralo que eu quero ralar
Fazer um quitute gostoso,
Eu sou perigoso quando eu vou almoçar
Esse é Pedrinho de Aurora, ele é casado e tem mulher
Ele é Pedrinho de Aurora é casado e tem mulher
A filha de [Dani Moes] é irmã de Manué
Óia o coco Sinhá Bastiana
Óia o coco na vorta da pá
Óia o coco Sinhá Bastiana
Junta esse coco que eu quero quebrar
Depois desse coco quebrado,
Panha o ralo que eu quero ralar
Fazer um quitute gostoso,
Eu sou perigoso quando eu vou almoçar
> Orador 3: Eita que é…
[00:09:02.22]
> Hermógenes Lima Fonseca: Ouvimos aí um meio martelo cantado pelo senhor Pedro de Aurora. Agora, seu Pedro, vai ser o que? Uma cantiga de derrubada?
> MPA: É um só que vai cantar ou…?
> HLF: Canta você só, pra fazer o registro.
[00:09:20.29]
> MPA: A areia do mar…
A areia do mar, lareia
A areia do mar sagrado, areia
Lá no tomo da ladeira, areia
Eu vi a areia dourada, Areia
Companheiro me ajude
Êia
Que eu tô querendo vadiar
Areia
Com o meu coli na mão
Êia
Cumpanheiro pode encostar
Areia
A areia do mar, lareia
A areia do mar sagrado, areia
Lá no tomo da ladeira, areia
Eu vi a areia dourada, Areia
E na boca do meu coli
Êia
Eu tô muito acostumado
Areia
Um caba na vida vadio
Areia
Mas ele é bom no machado
Areia
A areia do mar, lareia
A areia do mar sagrado, areia
Lá no tomo da ladeira, areia
Eu vi a areia dourada, Areia
Lá vai o pau, menino.
[00:11:29.14]
> HLF: E agora aquela outra toada de derrubada… da rôla?
> MPA: A Rola voou / Toada de Derrubada
A rola voou, sentou
No galho do pau pousou
Num foi o peso da rola
Que a a galha do pau rasgou, ai meu Deus
A galha do pau lascou
Porque tinha que lascar
Não foi o peso da rola
Porque rola não tem o que pesar, Ai meu Deus
Se…
Se o avoandar cansas
No lugar onde eu desejo
Depressa formava asa
Mas que pena eu tenho disso, ai meu Deus
A rola voou, sentou
No galho do pau pousou
Num foi o peso da rola
Que a galha do pau rasgou, ai meu Deus
Voltando com meu machado
Falo o que no peito sente
Eu vou derrubar esse pau
Na roçada da minha gente, ai meu Deus
A rola voou, sentou
No galho do pau pousou
Num foi o peso da rola
Que a galha do pau rasgou, ai meu Deus
A galha do pau lascou
Porque tinha que lascar
Não foi o peso da rola
Mas que rola não tem o que pesar, Ai meu Deus
> Orador 3: A garganta muito ruim…
> MPA: Tá.
[00:14:09.16]
> [Falas indistintas]
> HLF: É o ABC da Onça, né?
> MPA: É o ABC da onça.
> HLF: É a onça da reserva?
> MPA: É a onça da reserva.
> [Falas indistintas]
> MPA: ABC da Onça
Se eles…
Eu vou lhe contar um caso que sucedeu lá nas Ilha
A onça da reserva tá mudando pra Bahia
Essa onça veio com fome o que é que havemo fazer
Deu um susto em Custodinho, [Moisés…] foram lá ver
Quando eu chego no lugar olho a mata mexer
Essa onça, essa onça quer comer
Trilhou o filho de Ozório, fez Zé Passarinho correr
Do homem eu quero a palavra, da mulher quero [despose]
Véio de Leme não viu a onça mas tem a medida do rastro
Essa sana é muito boa, vamo espalhar a arnitinga
[João de Pedro] sentou no rastro, levantou pela catinga
Pedro Aurora falou pro filho: tu seja um homem guerreiro
Na fazenda do teu irmão já deu pra pegar carneiro
Eu olho pra seu pai com semblante espantado
A polícia federal num quer que se ande armado
Nunca li essa lei, nós tamo fotografado
A onça mais Zé Elia já andava de prufia
Ela pegou a comer os animais de Zé Elia
Zé Elia quando soube disse que a onça ia morrer
Mandou chamar Zé Caboco antes da onça correr
Zé Caboco quando soube logo se deu muito mal
Eu num vou né nessa caçada sem levar Zé Nicolau
Zé Nicolau quando soube conversou a mulher
Eu não vou nessa caçada sem levar Rafael
O Rafael quando soube logo se deu na carreira
Eu não vou nessa caçada sem levar Zé Pereira
Eu não vou nessa caçada se eu não levar Pereira
Cachorro de Pereira era muito acostumado
Na entrada do carrasco logo deu dois acuado
Zé Pereira deu um tiro, a onça esmureceu
Rafael deu outro tiro até que a onça morreu
Zé Nicolau logo disse, minha gente eu não vou lá
Eu tô com a perna ferida pode até me arranhar
Eu vou caçar um pau para eu me atrepar
Eu vou caçar um pau para eu me atrepar
Depois da onça morta traga ela que eu quero capar
> HLF: Eita ferro…
[00:20:07.09]
> HLF: Esse aí é de Zé Pretinho, né? Zé Pretinho é o Zé do…
> MPA: Zé do Tucum com o Cego Aderaldo.
> HLF: Hum. Então manda lá.
> MPA: Zé Pretinho de Tucuns e Cego Aderaldo.
Eu um dia destinei
a sair do Quixadá
Uma das belas cidades
do estado do Ceará
De lá fui ao Piauí,
Ver os cantores de lá
Hospedei em Pimenteira
E depois em Lagoinha
Cantei nos Campos Maior
Do Angico e na Baixinha
De lá eu tive um convite
Para cantar na Varginha
Quando eu cheguei na Varginha
Foi de manhã bem cedinho
Então o dono da casa
Me perguntou sem carinho
Cego, você não tem medo
da fama de Zé Pretinho?
Eu lhe disse não, Senhor,
Mas da verdade eu não zombo
Mande chamar esse nego
Que eu quero dá-lhe um tombo
Se ele vir hoje aqui
Um de nós dois arde o lombo
O dono da casa disse
Zé Preto tê-lo comum,
dá em dez ou vinte cego
Quanto mais só sendo um
Mandou lá no cumumzeiro
Chamar José do Tucum
O velho saiu na sala
Meu filho você vá já dizer a Zé Preto
Que desculpa eu não ir lá
Que ele [como cê falta] à noite venha por cá
Na casa do Zé Pretinho,
foi chegado um porta-doce
O José lá em casa tem um cego cantador,
meu pai mandou lhe buscar
Para tirar o calor
Respondeu o Zé Pretinho
Bom amigo é quem me avisa
Menino, dizei o cego que vá tirando a camisa
E mande benzê-lo logo que eu quero dá-lhe uma pisa
Todos zombaram de mim,
Mas eu nada não sabia
Que o tal do Zé Pretinho vinha para a cantoria
Às cinco hora da tarde chegou a cavalaria
O noivo vinha na frente,
todo vestido de branco
Com seu cavalo encapotado
Com os passos muito franco
Quis cavar de uma só vez
Toda no primeiro arranco
Saudaram o dono da casa
Todos com muita alegria
O velho satisfeito,
quando tava alegre sorria
Rodava o nome do povo que veio pro cantoria
Veio o Capitão Duda
Todos toavam Augusta
Augusto Antônio, Francisco, Mané Simão
Manuel ds Cabiceira, Tonheiro, Pedro Aragão
Foi também Pedro Martins, sinhô Manuel Casado
Francisco Lopes de Aquino e Manuel Bronzeado
Antônio da Cabiceira e um tal de Pé Furado
A Dona Mereidiana, … professora
Só levou duas filhas, bonitas e cantadoras
E que era da igreja, da mais [ejidas] cantoras
O sinhô Mané Sampaio, Samuel e Jeremia
Augusto, Antônio Feitosa, Senhor João de Anania
E foi um vigário velho, cura de três freguesia
Levaram o Nego para a sala
e depois lá pra cozinha
Ofereceram um jantar
De doce, queijo e galinha
Para mim veio um café
Com amarga bolachinha
Então para me sentar
[Bongaram] um pobre caixão
Já velho, desmantelado,
Desses que vem com sabão
Eu sentei, ele envergou
E me deu um beliscão
Depois trouxeram pra sala,
colocaram em um salão
Assentado num sofá
com a viola na mão
Junto a uma escarradeira
Para não cuspir no chão
O Nego tirou a viola
D’um saco novo de chita
Cuja viola estava
Toda enfeitada de fita
Eu vi as moças dizer:
Meu Deus, que viola bonita
Eu tirei minha rebequinha
D’um pobre saco de meia
Um pouco desconfiado
Por andar nas terra alheia
E as moça falaram:
Meu Deus, que viola feia
Aí as moças disseram:
A roupa do cego é suja
Bota [três guardanapo]
Para que ele não fuja
Cego feio assim de óculos
Só parece uma coruja
Respondeu, Capitão Duda,
Como um homem sensato:
– Vamo fazer uma busca
E botar dinheiro no prato
Que se é nele que passar
Manteiga inventa de gato
Aí as moça falaram:
Já tem setenta mil réis
Porque Capitão Duda
Da parte dele deu dez
Uma gosta de Zé Preto,
Botamo mais três anéis l
Afinemo os instrumentos
E entramo em discussão
O meu dia disse a mim
O Nego parece o cão
Cuidado com ele
Quando entrar em questão
Respondeu o Zé Pretinho
de perder não tenho medo
Esse cego apanha logo
Eu falo sem pedir segredo
Como eu tenho […] certo
Eu boto os anéis em meus dedo
Respondeu o Zé Pretinho
No seu cantar tem…
Aí o cego falou…
Eu já vi que o seu Pretinho
no seu cantar tem ciência
Parece que é adotado
Da divina providência
Havemos saudar o povo
Com a vossa justa excelência
Cala-te cego ruim
Cego aqui não faz figura
Quando o cego abre a boca,
É uma mentira pura
Quanto mais falar, mais mente
Inda mais sustentar jura
Eu pensei que Seu Pretinho
Fosse um homem de ação
Como se maltrata outro
Sem haver alteração?
Eu já vi que o senhor
Não possui educação
Cala-te cego ruim
Couro de couro de toicinho
Um cego da tua marca
Chama sabuzé vizinho
Aonde eu botar meus pés
Cego não bota o focinho
Esse nego foi escravo
Por isso é tão positivo
Quer ser na sala de branco
Exagerado e ativo
Nego da canela seca
Todos ele foi cativo
Cego, eu creio que tu és
Da raça do sapussunga
Os homi conversa…
O cego chega e resmunga…
Aonde os homi conversa
O cego chega e resmunga
Zé Preto não me aborreça
Com esse cantar ruim
Tirando a falta que tem
Botando em cima de mim
O hômi que canta sério
Não trabalha e versa assim
> MPA: Aí mudou…
Se eu der um tapa no nego de fama
Ele come lama dizendo que é papo
Eu roubo-te o couro, eu furo-te mato,
eu te rasgo de espora,
O nego hoje chora
Com febre, com íngua
Te deixo a língua
Com pano de fora
Veja coisa ruim,
o cego tá zangado
Cante a mulherada
Que eu não quero assim
Olha para mim que eu sou verdadeiro
Sou bom companheiro
Canto sem maldade
Fazemos a paz e parte o dinheiro
Nem que o Nego seca as engulideira
Peço a noite inteira
Ele não obete
Pois esse moleque
hoje dá pinote
Inventa de moer
O boca de pinote
Tu quer dinheiro
Eu te dou até chicote
Cante mais…
Pensei que bonito
Com meu trem escrito
Cá no meu caderno
Sou teu subalterno
Eu sei que apanho
Fazemos a paz
E reparto o ganho
Nego a raiz que apodreceu
Casca de judeu
Moleque infeliz
Vá pra teu país
Se não eu te surro
Cara de cavalo, cabeça de burro
MPA: Aí eu vou parar porque…
[00:32:36.20]
> MPA: […] da parte, né?
> HLF: É. Como você vinha cantando.
> MPA: Zé Pretinho de Tucuns e Cego Aderaldo (cont.)
Agora, cego ocê põe muda
uma das suas toadas
Pra ver se essas moças
Dão alguma gargalhada
Que todo mundo tão rindo
Só as moça tão calada
Ai ô Preto, eu não sei o que será de você
Depois da luta
Você já vencido está
Quem a paca a cara compra,
Cara paca pagará
Cego, teu peito é de aço
Foi bom ferreiro que fez
O dia que o cego não tinha
Nunca antes tanta rapidez
Se isso não lhe for maçado
Repita a paca outra vez
Repito, um até dez
Eu pra cantar não tenho pompa
Presentemente eu não acho
Quem no meu mapa rompa
Cara paca pagará
Quem a cara paca compra
Cego, agora me apertasse
Que nem um pinto no ovo
Eu não gosto de passar vergonha
Adiante do mei do povo
Se isso não lhe for maçado,
Repita a paca de novo
Ai com tanto pedido
Desse nego capivara
Não há quem não cuspa pra cima
Que não lhe caia na cara
Cara paca cara compra
Vai pagar a paca cara
Agora, cedo, me ouça
Cantarei a bacajá
Tema assim só de um burro
No bico de um caracará
Quem a caça cara compra
Caça cara carará
Foi o truvão de risada
Dos versos do tal Pretinho
Respondeu o capitão Duda
– Rega-te daqui negrinho
Vá descansar o juízo
Que o cego canta sozinho
Me desculpe Zé Pretinho
Deu não cantar a seu gosto
José quem canta comigo
Pega devagar na louça
Faz favor de entregar
Os anéis de cada moça
Quando eu fiz o Mosés
Com a minha rebequinha
Procurei o nego na sala
Já estava na cozinha
De volta querendo entrar
Na porta da [calarinha]
[00:35:28.26]
> HLF: Então foi nessa… como é a história do Antônio Silvino?
> MPA: Essa que vai cantar agora é Antônio Silvino, essa aí é do Cego Aderaldo…
Tá pronto, tá.
Agora tá querendo… um negócio.
> Orador 3: Tá querendo pinga. Ô seu Zé! Agora seu Pedro tá querendo pinga.
[Falas indistintas]
> HLF: Não… aquele litro da margosa, tem não, o garrafão?
> MPA: Cabou…
> MPA: Cordel. Antônio Silvino.
Leitores verso rimado
Minha história eu vou contar
O crime que eu pratiquei
Quero agora confessar
Jurando que da verdade
Nunca mais hei de afastar
> MPA: Um faz uma segunda aí pra ver se melhora.
> Orador 3: Eu tô com a goela ruim, não tem cachaça…
> MPA: Eu cantei, eu peguei muito ar, né…
> HLF: Mas não faz mal não, é só pra registrar.
> MPA: Antônio Silvino (cont.)
Nasci em 77
Ano de inverno forte
A 22 de Dezembro
Aniversário e da morte
Por isso cruel destino
Eu me dibandi da sorte
Na margem de Pajeú
No distrito de Ingazeira
Junto à serra da colônia
Vi o sol a vez primeira
Já nasceu trouxe nas veias
O sangue da raça guerreira
Pedro Batista de Almeira
E Ubarbina de Morais
Casado catolicamente
Foram meus legítimos pais
Nascido em Pernambuco
E vim pra Jaú em [anturage]
A 18 de Outubro eu vi meu pai assassinado
Pela família…
[…]
Enquanto eu era pequeno
Aprendi a trabalhar
Abaixei 16 anos
Dediquei-me a vaquejar
Abraçando os 20 anos
E a profissão de matar
A 18 de Outubro
vi meu pai assassinado
Pela família de Ramos
Já sendo nosso intrigado
E de lá o José Ramos
Era subdelegado
Fui me ter com a justiça
Mostrar o de fora a parte
Murmurei com meus butões
Que eu também…
Não quero código melhor
Do que ser bacamarte
Fui me ter com a justiça
Nem desse caso importou
A bandida da polícia
Parece que auxiliou
Minha justiça foi reta
Para qualquer criatura
Eu sempre di os meus réu
Em casa muito segura
Nunca vi uma pessoa
Fugir duma sepultura
A 22 de Dezembro
de 1906
Eu fiz a primeira morte
Matando dois de uma vez
José Ramos Carniceiro
E um tal de João Rosa de Arreio
Depois que eu fiz essa morte
Fiquei desacomodado
Pegou a me perseguir
De Ingazeiro um delegado
Um tal de Francisco Brás
Matei e fiquei vingado
Então família de Ramos
Fugiu para Imaculada
Por onde o…
Foi protegido e guardado
Nunca mais peguei um deles
Nenhuma emboscada
Quando nós desenganemo
Que não pegava o Dantinho
Vortamo pra Pajaú
Pro lugar que nos convinha
De lá nós fomo a Campinho
Aonde uns parente eu tinha
Lá em Fazenda Pedreira
Distrito de Caricó
Nós tivemos uma grande luz
Que quase que eu fiquei só
Eu me vi encarcerado
E com a mulher num cipó
Eu mais o meu companheiro
Ia subindo pro Surrão
E tinha muita munição
Tinha gente pra brigar
Até com um batalhão
Nesse dia nós chegamo
Na casa de José Gato
[José…] matou um arreio
Para me dar melhor trato
Só faltava Rio Preto
Que estava doente no mato
Era dez hora do dia,
Nós tava todo acamado
Quando nós não esperava
O 180 soldado
Eu mais o meu companheiro
Ouvimo todos cercado
A polícia entrincheirou
Do riacho a lareira
Onde nos fazia fogo
Era uma boa trincheira
Se eu não fosse cuidadoso
A força vortava inteira
Durou mais de duas horas
Esse combate sangrento
Por acabar munição
Deixei o acampamento
E fiquei de parto rindo
Do combate […]
Foi uma luta medonha
Todos esses atirando
As balas perto de mim
Passava no ar [se vando]
Um [tiro te imitava]
Um [ta boca] se queimando
Depois de eu fora do circo
Eu dei um tiro que sinto
Até no[…]
O[…] e Paulinho Pinto
O Angelim eu não matei,
não teve tal destino
O tenente José Lopes
Vendo a fere baleada
Ordenou matar os preso
Desobedecendo o soldado
Não matei porque o ris
estava descarregado
O vi matar todos nós
De um a um por escala
Mataram todo a faca
Não quiseram estragar bala
Só o Antônio Francisco
Morreu sem perder a fala
Aqueles que escaparam
Desembestaram a correr
Cada um mais peca vida
Procurando a se esconder
O diabo é quem espera
Para o sangrado morrer
> MPA: Quer que vá mais adiante?
> HLF: Vai.
MPA: Antônio Silvino (cont.)
Eu mais o meu companheiro
Pra Canhacin eu cheguei
Em Canhacin eu cheguei
Logo o posto de […]
Três meses verifiquei
Praça na guarda local
Seis meses policiei
Eu tenho dentro da guarda
Quando um doutor me chamou
Ô meu amigo Antônio
Minha esposa me deixou
Se você for buscar ela
Seis conto de réis lhe dou
Respondi: – Senhor Doutor,
A mulher aonde procuro? –
Na Usina de Santo Di
Se você for buscar ela
Seis contos de réis te dou
Isso eu te agaranto e juro
Eu mais meu primo Argemiro
E um grupo que ajuntamo
Cerquei a usina citada
Logo lá quando chegamo
Nem o doutor nem a filha
Na casa não encontramo
Uma mocinha da casa
Por ser muito imprudente
Passou em frente a meu rifle
Eu matei inconsciente
Lamentei a morte dela
Por ter morrido inocente
FIM DO LADO A
INÍCIO DO LADO B
[00:00:00.24]
> Oradora 3: A Diana / Boa noite meus senhores todos…
E boa noite senhôras também
Com essas flores que me conduziam
Alegremente a saudade em mim
Eu sou a mestra do cordão encarnado…
[…]
> HLF: Começa, desde o início.
> Oradora 1: A Diana / Boa noite meus senhores todos…(cont.)
Boa noite meu senhor
E boa noite senhoras também
Com essas flores que me conduziam
Alegremente a saudade em mim
Sou A Diana não tenho partido
O meu partido é o meu coração
Eu só penso aos meus partidários
Que me abracem esses dois cordões
[00:00:58.05]
> HLF: Aí, Moisés.
> Orador 3: Ô que noite linda, ô que belo luar…
Ô que noite linda, ô que belo luar
Nossa Senhora da Penha nós viemos adorar
Ô que noite linda, ô que belo luar
Nossa Senhora da Penha nós viemos adorar
[00:02:36.25]
> HLF: Tira aí o pixingolê, né. Então canta lá.
> Orador 3: Quando eu vim de lá da cidade…
Quando eu vim lá da cidade eu vendi o meu burro
Eu vendi o meu burro e comprei uma arruana (?)
E cheguei na fruteira para tomar uma cachaça
Na saída da fruteira a minha mula cismou me jogou na capoeira
[00:04:19.10]
> HLF: Essa é cantiga de machado, né? Cantiga de derrubada?
> Orador 3: É… cantiga de derrubada. Bate aê…
> Orador 3: Cantiga de derrubada. São Benedito, olha a flor da manjerona
São Benedito, olha a flor, olha a flor,
Olha a flor da manjerona, olha a flor
São Benedito, olha a flor, olha a flor,
Olha a flor da manjerona, olha a flor (2x)
FIM